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segunda-feira, 11 de julho de 2011

E se o amor acabar...

Deixar que o amor siga seu caminho é tão importante quanto vivê-lo de forma plena. Não se trata de fracassar, mas, sim, de ter sabedoria para tirar o peso das costas e reencontrar sua essência. É o que explica o psicólogo Roberto Gambini, de São Paulo, nesta conversa franca.


Existe amor eterno? O rito do casamento traz embutida a ideia de que deve durar para sempre e que isso depende do nosso comportamento. Se você não abandonar na tristeza, na doença, na pobreza, o relacionamento se mantém. Vira uma enorme responsabilidade. Mas a gente não é dono do amor – ele pode durar ou não.

Como saber se o relacionamento chegou ao fim ou se merece mais chances?

É difícil perceber, porque você pode olhar para coisas secundárias: “Pensamos de forma diferente”, “Brigamos demais”. É natural que existam falhas. Mas às vezes os dois estão fazendo direito e o amor se comporta como um perfume: fica um tempo no ar e depois se esvanece. Esse término depende de como foi o começo. Existem dois tipos principais de relacionamento.

No primeiro, o casal busca bem-estar, quer adquirir bens, aumentar o prestígio social, construir uma família bem-sucedida. Um fica puxando o outro para cima: “Eu queria que você fosse mais isso, mais aquilo”. No segundo, as pessoas se juntam para evoluir.

Às vezes, nem há riqueza material. Eles se amam porque são do jeito que são. Não estou julgando nenhum dos tipos, porque ambos são baseados no amor. Aquele que vive do bem-estar acaba em litígio por causa do patrimônio. O que era motivo de orgulho vira troféu de guerra. No outro, o amor se transforma em aceitação. E quando existir traição? Numa relação de bem-estar, é um trauma, pois desestrutura todas as crenças alimentadas por anos. No outro tipo, não vira um ataque pessoal.

É possível atravessar essa fase de um jeito leve?

Sempre há tristeza – mas de formas diferentes. Para quem preza o material, tem de ter raiva, porque é da natureza daquela relação. Senão, vira doença emocional e depois física. Para quem está no outro modelo, a perda é como um tecido que se rasga. Dói porque dói, não importa se há objetos ou dinheiro na história. Até os filhos encaram de forma mais saudável, já que não veem os pais se odiando e têm a chance de notar que os dois querem ter uma vida diferente. Não estou dando uma receita. Apenas observe que o ser humano funciona dentro de estruturas sociais. É preciso descobrir qual delas você tem escolhido.

As mulheres sentem mais culpa quando tomam a iniciativa de se separar?

Sim, porque a cobrança para que tenham uma relação importante é maior. A rigor, qualquer pessoa pode ter uma vida boa sem uma relação conjugal e filhos. Mas a cultura e a religião dizem que, sem isso, você vai ser fracassada ou solitária. Claro, está mudando, mas, se você escolhe passar por esse caminho, deve fazer uma libertação dos condicionamentos mentais. Só que é preciso diferenciar a culpa neurótica da legítima. Abandonar as crianças e nunca mais voltar a vê-las gera um pesar verdadeiro. Se o que a consome é a pena porque seu marido não sabe cozinhar, vira um medo inventado ou, se ele faz chantagem, assumido. Pense em si mesma e deixe que ele cure as próprias dores.

E cuidado para não usar a culpa neurótica como muleta para adiar decisões nem a autopiedade para se consumir depois de decidir. Ódio tem função, mas também tem duração. Não pode se instalar por anos, porque é tóxico. Tem a ver com praticar o desapego? Sim. A raiva é um apego. Você fica um tempão preso ao outro toda vez que sente, às vezes até sem se dar conta. O budismo ensina que com menos você será mais feliz. Mas uma coisa é se livrar de um sapato velho, outra é deixar partir alguém que conviveu tão intimamente com você. Só há uma saída: entender que a vida não é feita só de somas e multiplicações. A divisão e a subtração são as maiores verdades.

Perdemos pelo caminho bens materiais, pessoas, status, certezas. Ora, o que é a morte senão a subtração absoluta? Só que somos como guarda-roupas: estamos cheios e, se quisermos que uma nova peça entre, temos de abrir espaço. Para deixar partir, é necessário esvaziar o amor que existiu, tirar o sobrenome do marido e voltar a ser Maria. Então deixar partir é um exercício de coragem? É, porque o mundo cobra as provas do sucesso. E você vai mostrar o quê? Bagagens cheias de coisas mortas? Se tiver de fazer essa viagem, largue o peso e vá só com uma mochila. Dentro dela estará sua essência, sua força. O que veio depois foi um percurso. Às vezes, para se encontrar é preciso caminhar de volta à infância e lembrar seus sonhos e gostos. Fazendo isso, você vai dizer: é para lá que eu vou, para esse serzinho que fui um dia e que conhecia os códigos da felicidade.

Bjs à todos,

Raquel  do  Valle

Um comentário:

Simone Aline disse...

sábias palavras!
Bjks!